Estamos vivendo o periodo da escolha de sambas enredo para carnaval de 2010, e com ele o momento para nós analistas e pesquisadores, refletirmos sobre a qualidade das obras daqueles que querem ter a pretensão de representar o hino de sua escola.
Escutando alguns sambas e acompanhando as disputas e apresentações nas quadras, estou muito preocupado com o que tenho escutado. É impressionante como a cada ano a qualidade do samba enredo vem caindo. Para nós existem, duas razões que podem ajudar a elucidar tal fenômeno.
A primeira é a mercantilização e banalização da escolha do enredo por parte das agremiações. Para arrecadarem uns trocados a mais, algumas escolas se sujeitam a fazerem dos seus enredos, moedas de trocas. Assim colocam na avenida temas que não conseguem se fazer entender e o que é pior, não cria no compositor uma inspiração poética, que facilite a criação de obras de qualidade.
Hoje se fala de tudo nos enredos, mas se mostra quase nada, pois os temas são superficiais e genéricos. Seus conteúdos são cheios de informações, mas carecem de qualidade que permita revelar ao compositor, um horizonte para sua criação poética.
O resultado da realidade destes enredos é a composição de sambas enredo com melodias repetidas de outros carnavais e letras que são verdadeiras, “sopas de letrinhas”, pois são cheias de palavras e informações que são jogadas no papel sem sentido algum.
Outro fator que pode explicar a queda da qualidade dos atuais sambas é a mediocretização da formação do compositor de samba enredo. Hoje qualquer um que escreve se acha poeta, sem, no entanto, ter conhecimento, sensibilidade e talento para isto. O resultado é a exibição de sambas ruins de letras e melodias.
Não estou exigindo, que ninguém faça samba como antigamente. Pois a inovação é algo intrínseco na história dos sambas enredo. Mas que apenas se respeite, a forma e a essência de verdadeiro samba enredo.
Oxalá! Que a safra de sambas enredo melhore, pois nenhum ouvindo merece escutar tanta coisa ruim numa noite só.
foto:divulgação
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Na Cadência da Bateria
"Carnaval o ano todo"
A opinião do pesquisador e historiador sobre os acontecimentos do carnaval
Sambas enredo de 1983: Clássicos que devem ser lembrados eternamente
Quem anda cansado de ouvir os sambas enredo atuais, com seus temas vazios, sem imaginação, melodias rápidas e pobres e com os puxadores ”Gospel”, que tremem a voz e querem aparecer mais do que o próprio samba. Deve reservar um tempo, para escutar com carinho a gravação dos sambas enredo das principais escolas de samba do Rio de Janeiro do ano 1983.
Lá você vai encontrar logo de cara, com dois clássicos: Mãe baiana mãe, das ‘‘Feras” Aloísio Machado e Bento sem braço do Império Serrano e Como era verde meu Xingu de Dico da viola, Paulinho Mocidade, Tiãozinho e Adil da Mocidade Independente de Padre Miguel.
Na composição do Império Serrano eu destaco a beleza singela mas ao mesmo tempo extraordinária da letra deste samba. Através de um subjetivismo e sensibilidade singular, os autores fazem uma linda homenagem à mulher negra afro-brasileira. Já no samba da nossa Mocidade Independente, ressalto a força rítmica deste samba e, sua letra que é um grito político contra a destruição do meio ambiente e da cultura genuinamente brasileira. Mais em termos de qualidade de samba enredo, o saudoso disco de 1983 não fica só nestes dois clássicos citados. Unidos da Ponte, E eles verão a Deus, que é uma bela poesia lírica com letra que usa e abusa de figuras de linguagem e, Beija Flor de Nilópolis com Grande constelação das estrelas negras. um samba forte e contagiante, ajudam a fazer deste álbum o melhor feito na década de 1980.
Ainda falando da qualidade dos sambas de 1983, quero fazer uma ressalva ao samba do Acadêmicos do Salgueiro. Traço e troças ele é uma composição que rompe com a estética formalista do samba tradicional, introduzindo o verso livre e a irreverência poética.
Para fechar a analise do disco de sambas enredo de 1983, quero aqui lembrar que nele tem-se o que de melhor a história dos desfiles de escola de samba pôde oferecer em termos de puxadores de samba enredo.
Para fechar a analise do disco de sambas enredo de 1983, quero aqui lembrar que nele tem-se o que de melhor a história dos desfiles de escola de samba pôde oferecer em termos de puxadores de samba enredo.
Nesta gravação você tem as vozes marcantes de: Quinzinho, Aroldo Melodia, Silvinho da Portela, Grilo, Sobrinho, Ney Vianna(foto), Rico Medeiros, Marcos Moran, Neguinho da Beija Flor e Flavinho Machado. Todos estes artistas abrilhantaram este trabalho com estilos próprios que respeitaram a tradição e a força do samba.
foto:divulgação
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Na Cadência da Bateria
"Carnaval o ano todo"
Paradoxo e Inovação Feminina podem Alavancar Carnaval de Niterói
Embora eu considere um paradoxo para o espírito carnavalesco, você criar uma agremiação que separa as pessoas por gênero. Isto porque, a essência do carnaval está justamente no rompimento com as regras e distinções sociais. Apesar deste paradoxo cultural, vejo que o surgimento do bloco “Saias na Folia”, pode ser um fator de inovação e incremento do carnaval de Rua de Niterói.
A idéia da politização e irreverência do bloco me agrada muito, acho que o carnaval de um modo geral está precisando disto. A coisa ficou filosoficamente muito vazia e sentimentalmente, muito triste e pesada. Carnaval não são arrepio, nem segredo, é riso, crítica e muito ritmo.
Estive conversando com a presidente do bloco Saias na folia, a nossa querida Rita Diirr e ela me confessou que sua idéia é também desfilar pelas ruas da cidade, transformando a sua agremiação num bloco de corda, isto é, claro para não misturar homens com mulheres. Acho muito bom se isto acontecer, pois considero que estamos precisando de agremiações carnavalescas que elabore e aprimoram a nossa cultura popular, e não a banalize e descaracterize como vem fazendo muitas escolas e blocos.
Vamos esperar que o charme, a beleza e principalmente a inteligência feminina, traga um novo ânimo popular e político para o carnaval de Niterói.
Avante meninas!
foto: divulgação
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Prof. Mariano
Pesquisador e carnavalesco do carnaval de Niterói
A idéia da politização e irreverência do bloco me agrada muito, acho que o carnaval de um modo geral está precisando disto. A coisa ficou filosoficamente muito vazia e sentimentalmente, muito triste e pesada. Carnaval não são arrepio, nem segredo, é riso, crítica e muito ritmo.
Estive conversando com a presidente do bloco Saias na folia, a nossa querida Rita Diirr e ela me confessou que sua idéia é também desfilar pelas ruas da cidade, transformando a sua agremiação num bloco de corda, isto é, claro para não misturar homens com mulheres. Acho muito bom se isto acontecer, pois considero que estamos precisando de agremiações carnavalescas que elabore e aprimoram a nossa cultura popular, e não a banalize e descaracterize como vem fazendo muitas escolas e blocos.
Vamos esperar que o charme, a beleza e principalmente a inteligência feminina, traga um novo ânimo popular e político para o carnaval de Niterói.
Avante meninas!
foto: divulgação
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Prof. Mariano
Pesquisador e carnavalesco do carnaval de Niterói
Os 100 anos da Estrela do Império Serrano, Mano Décio da Viola
Se fosse vivo, Mano Décio da Viola teria completado no último dia quatorze, 100 anos de idade.
Nada mais justo, portanto, de rendermos uma homenagem nesta coluna a este baiano de alma carioca, que tanto fez pelo samba e pelo carnaval do Rio de Janeiro.
Vamos recordar um pouco à trajetória e o sucesso deste compositor negro, que lotou com muita dignidade contra o destino que a sociedade de classes lhe impôs.
Vindo para o Rio de Janeiro ainda bebê, Mano Décio teve uma infância muito dura, do ponto de vista social, mas desde o inicio o samba e o carnaval já reservavam a este talento, um destino de vitória e consagração.
Nas décadas de 20 e 30, mano Décio peregrinou por vários morros cariocas, freqüentando várias agremiações carnavalescas importantes do Rio de Janeiro como: Rancho Príncipe das Matas do Morro da Mangueira e a Escola de Samba Recreio de Ramos.
Mas foi em Madureira que brilhou a estrela a estrela de Mano Décio, primeiro como Admirador dos desfiles da Prazer da Serrinha. No inicio dos anos 40 e depois, como componente da escola e um dos revolucionários, que iria romper com a gestão centralizadora e capitalista do presidente Alfredo Costa, que cobrava ingresso do sambista freqüentador da escola.
Em 1946, Mano Décio da viola e Silas de oliveira compuseram para o desfile da Prazer da Serrinha um samba cuja letra interpretava o enredo da agremiação. Os dois compositores criaram o que mais tarde se convencionou a chamar de samba enredo. Até então, a música do carnaval não tinha a ver com a narrativa que o desfile apresentava através das fantasias e estandartes. A Prazer da Serrinha estava pronta para fazer história no desfile das escolas de samba daquele ano. Contudo, um pouco antes de começar o desfile, o presidente da escola decidiu vetar o samba e colocar uma canção simples no lugar.
Mano Décio da viola, Silas de Oliveira, Aniceto Menezes e Sebastião de Oliveira, o molequinho sob a proteção do pai de santo Mano Elói, fundaram em 23 de março de 1947 o Grêmio Recreativo Escola de Samba Império Serrano.
O primeiro samba campeão de Mano Décio foi “Exaltação a Tiradentes”, de 1949, que criou em parceria com Estanislau Silva e Penteado e com a ajudar da filha, que emprestou o livro escolar para auxiliá-lo. Esse samba foi gravado para o carnaval de 1955 como “Tiradentes”, configurando-se como o primeiro registro histórico de samba enredo.
Exaltação a Tiradentes (1949)
Império Serrano (RJ)
Composição: Mano Décio, Estanislau Silva e Penteado
EXALTAÇÃO A TIRADENTES
Joaquim José da Silva Xavier
Morreu a 21 de abril
Pela Independência do Brasil
Foi traído e não traiu jamais
A Inconfidência de Minas Gerais
Joaquim José da Silva Xavier
Era o nome de Tiradentes
Foi sacrificado pela nossa liberdade
Este grande herói
Pra sempre há de ser lembrado
Portanto lembrar-se de Mano Décio da viola é recordar um capítulo importantíssimo da história dos desfiles das escolas de samba. Capítulo que trás o germe do rompimento e da inovação, marcas fundamentais no caminhar do samba.
foto: divulgação
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Prof. Mariano
Pesquisador e carnavalesco do carnaval de Niterói
Nada mais justo, portanto, de rendermos uma homenagem nesta coluna a este baiano de alma carioca, que tanto fez pelo samba e pelo carnaval do Rio de Janeiro.
Vamos recordar um pouco à trajetória e o sucesso deste compositor negro, que lotou com muita dignidade contra o destino que a sociedade de classes lhe impôs.
Vindo para o Rio de Janeiro ainda bebê, Mano Décio teve uma infância muito dura, do ponto de vista social, mas desde o inicio o samba e o carnaval já reservavam a este talento, um destino de vitória e consagração.
Nas décadas de 20 e 30, mano Décio peregrinou por vários morros cariocas, freqüentando várias agremiações carnavalescas importantes do Rio de Janeiro como: Rancho Príncipe das Matas do Morro da Mangueira e a Escola de Samba Recreio de Ramos.
Mas foi em Madureira que brilhou a estrela a estrela de Mano Décio, primeiro como Admirador dos desfiles da Prazer da Serrinha. No inicio dos anos 40 e depois, como componente da escola e um dos revolucionários, que iria romper com a gestão centralizadora e capitalista do presidente Alfredo Costa, que cobrava ingresso do sambista freqüentador da escola.
Em 1946, Mano Décio da viola e Silas de oliveira compuseram para o desfile da Prazer da Serrinha um samba cuja letra interpretava o enredo da agremiação. Os dois compositores criaram o que mais tarde se convencionou a chamar de samba enredo. Até então, a música do carnaval não tinha a ver com a narrativa que o desfile apresentava através das fantasias e estandartes. A Prazer da Serrinha estava pronta para fazer história no desfile das escolas de samba daquele ano. Contudo, um pouco antes de começar o desfile, o presidente da escola decidiu vetar o samba e colocar uma canção simples no lugar.
Mano Décio da viola, Silas de Oliveira, Aniceto Menezes e Sebastião de Oliveira, o molequinho sob a proteção do pai de santo Mano Elói, fundaram em 23 de março de 1947 o Grêmio Recreativo Escola de Samba Império Serrano.
O primeiro samba campeão de Mano Décio foi “Exaltação a Tiradentes”, de 1949, que criou em parceria com Estanislau Silva e Penteado e com a ajudar da filha, que emprestou o livro escolar para auxiliá-lo. Esse samba foi gravado para o carnaval de 1955 como “Tiradentes”, configurando-se como o primeiro registro histórico de samba enredo.
Exaltação a Tiradentes (1949)
Império Serrano (RJ)
Composição: Mano Décio, Estanislau Silva e Penteado
EXALTAÇÃO A TIRADENTES
Joaquim José da Silva Xavier
Morreu a 21 de abril
Pela Independência do Brasil
Foi traído e não traiu jamais
A Inconfidência de Minas Gerais
Joaquim José da Silva Xavier
Era o nome de Tiradentes
Foi sacrificado pela nossa liberdade
Este grande herói
Pra sempre há de ser lembrado
Portanto lembrar-se de Mano Décio da viola é recordar um capítulo importantíssimo da história dos desfiles das escolas de samba. Capítulo que trás o germe do rompimento e da inovação, marcas fundamentais no caminhar do samba.
foto: divulgação
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Prof. Mariano
Pesquisador e carnavalesco do carnaval de Niterói
Fernando Pinto: Precursor do carnaval Virtual
Ao assistir aos desfiles das escolas de samba virtuais, me lembrei do saudoso carnavalesco Fernando Pinto. E também veio na memória, seu carnaval de 1985 na Mocidade Independente de Padre Miguel. Naquele ano Fernando Pinto escolheu como enredo para escola da vila vintém, o tema "Ziriguidum 2001" – Um carnaval nas estrelas.
Se pararmos para vermos de novo aquele deslumbrante desfile, chegaremos à conclusão que genial carnavalesco pernambucano, dentro da sua clara vidência foi precursor do carnaval virtual e, o tornou possível não na tela do computador ou na do cinema, mas sim na cabeça e nos pés da comunidade de Padre Miguel. Foi ela que brilhantemente materializou aquele carnaval futurista, ou como queiram virtual na Marquês de Sapucaí.
Ziriguidum 2001, inspirado no cinema cientifico, mostrou que a idéia de virtualidade não ocorre apenas na tela do computador ou na da pintura como fizeram os surrealistas, ela também pode está ali, no asfalto, como no caso do carnaval da Mocidade em 1985.
Fernando Pinto (foto) transformou sua utopia de levar o carnaval para as estrelas, para o futuro, em realidade virtual. Pois, embora o artista tenha criado toda uma existência entre sua utopia e a realidade objetiva, nem a Mocidade e tão pouco o público estavam, nas estrelas ou no ano de 2001, mas sim, na Marquês de Sapucaí e no ano 1985.
Por tanto este desfile, teve um caráter virtual, pois sua existência e realização foram apenas aparentes, apesar de termos a sensação de serem reais e verdadeiros.
Ouça o aúdio do Desfile da Mocidade de 1985 (ao vivo):
foto: divulgação
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Prof. Mariano
Pesquisador e carnavalesco do carnaval de Niterói
Recordar é viver!
Em meio ao anuncio do aumento do preço do cafezinho e da caixa de fósforos, que empobrecia ainda mais o cidadão comum brasileiro e, ajudava a desgastar a imagem do governo militar. Começava no ano de 1967, mais um carnaval na cidade de Niterói.
Ele teve como uma das suas maiores atrações, o desfile do tradicional Bloco Carnavalesco Inocentes Canibais(foto). Esta agremiação arrastava multidões pelas ruas da cidade na década de sessenta. Sua apoteose era a concentração e devoção realizada pelo povo aos pés da estátua de Araribóia no primeiro dia de carnaval.
Além do singular ritual carnavalesco dos Inocentes Canibais, o carnaval de rua da cidade sorriso teve na marchinha “Cachaceiro”, interpretada pelo famoso trio Icaraí, um momento de muita polêmica. Isto porque, as rádios da época boicotaram a execução da música carnavalesca. Ela falava dos hábitos do cotidiano popular. Neste coso abordava o tema “Beber uma cachaçazinha” e, enaltecia a figura do cachaceiro, que na letra da marcha, não era a pessoa que bebia muito, mas sim, o sujeito que fazia uma deliciosa cachaça.
Por achar a marchinha um pouco agressiva a moral e aos bons costumes da época, e para não terem talvez problemas com a censura, a maioria das rádios não tocou esta marcha, mas ela foi um grande sucesso na boca do povo nos quatro dias de momo.
Não poderíamos antes de encerrar esta crônica, deixarmos de falar no desfile das principais escolas de samba de Niterói no ano de 1967. Ele pode ser considerado um divisor de águas, no que diz respeito à disputa pelo titulo de campeão do carnaval niteroiense. Isto porque a nossa querida Acadêmicos do Cubango, depois de muitos títulos, e desfiles inesquecíveis na academia de Niterói, uma espécie de segundo grupo do carnaval de Niterói da época, estreava no grupo de elite da escola de samba da cidade.
Quando a verde e branco do Morro do Abacaxi, pisou na Avenida Amaral Peixoto, mas primeiras horas de segunda-feira “gorda” de carnaval trazendo o magnífico enredo "O Brasil pintado por Debret”. Ninguém teve duvida de apontá-la como a futura vencedora do carnaval de 1967.
Ao abrirem os envelopes dias depois, não deu outra: Cubango campeã do carnaval com nove pontos à frente da segunda colocada que foi a escola de samba do Morro do Estado, a saudosa Império do Estado.
Apesar de amargar um quarto lugar e ver surgir uma rival que a partir daquele momento lhe tomaria muitos titulos de campeã do carnaval niteroiense. O ano de 1967, não foi totalmente desastroso para Unidos do Viradouro. Seu samba enredo cuja letra aparece escrita na íntegra no final desta crônica, foi considerado pela critica como belo samba enredo daquele ano.
“A festa do divino na Bahia”, enredo da Viradouro de 1967, retratava de forma fantástica em sua letra, o sincretismo religioso na capitania baiana na época do Brasil colônia.Com uma letra extensa que procurava narrar de forma cronológica e meticulosa a veracidade dos fatos históricos.
Por tanto este foi o carnaval niteroiense de 1967. Recordá-lo como fizemos nesta crônica é mostrar que muito antes do grande escrito baiano Jorge Amado, classificar o carnaval de Niterói como o segundo melhor do Brasil, a cidade já fazia festas carnavalescas que lhe dava jus a tal titulo.
Samba enredo da Unidos do Viradouro de 1967
Titulo - Festa do Divino na Bahia
Antigamente na Bahia
Acontecia, uma festa de muita alegria
Realmente era lindo
Ver tanta gente sorrindo
Ôôôôôô...
Era o povo pela praça
Cantando cheio de graça
Ôôôôôô...
Ê o bailar dos sinos
Anunciava o divino
Em belo e rico ritual
Os vices reis logo chegavam
Em belas carruagens
Era motivo de orgulho
Glorias e homenagens
Eram matizes multicores
Inebriantes e febris
De panoramas sedutores
E belezas tão sutis
Desfilavam as cavalhadas
Preto velho das congadas
A exibição da capoeira
O refrão da baiana faceira
Quem é que não quer o vatapá?
E o manguzá do tabuleiro de Iaiá?
II
É da Bahia de outrora esta história
É da Bahia tão formosa primorosa
Festa do divino da Bahia colossal
Fatos tão marcantes do Brasil colonial
Ôôôôôô
Festa do povo, lá em salvador
foto: divulgação
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Prof. Mariano
Pesquisador e carnavalesco do carnaval de Niterói
Ele teve como uma das suas maiores atrações, o desfile do tradicional Bloco Carnavalesco Inocentes Canibais(foto). Esta agremiação arrastava multidões pelas ruas da cidade na década de sessenta. Sua apoteose era a concentração e devoção realizada pelo povo aos pés da estátua de Araribóia no primeiro dia de carnaval.
Além do singular ritual carnavalesco dos Inocentes Canibais, o carnaval de rua da cidade sorriso teve na marchinha “Cachaceiro”, interpretada pelo famoso trio Icaraí, um momento de muita polêmica. Isto porque, as rádios da época boicotaram a execução da música carnavalesca. Ela falava dos hábitos do cotidiano popular. Neste coso abordava o tema “Beber uma cachaçazinha” e, enaltecia a figura do cachaceiro, que na letra da marcha, não era a pessoa que bebia muito, mas sim, o sujeito que fazia uma deliciosa cachaça.
Por achar a marchinha um pouco agressiva a moral e aos bons costumes da época, e para não terem talvez problemas com a censura, a maioria das rádios não tocou esta marcha, mas ela foi um grande sucesso na boca do povo nos quatro dias de momo.
Não poderíamos antes de encerrar esta crônica, deixarmos de falar no desfile das principais escolas de samba de Niterói no ano de 1967. Ele pode ser considerado um divisor de águas, no que diz respeito à disputa pelo titulo de campeão do carnaval niteroiense. Isto porque a nossa querida Acadêmicos do Cubango, depois de muitos títulos, e desfiles inesquecíveis na academia de Niterói, uma espécie de segundo grupo do carnaval de Niterói da época, estreava no grupo de elite da escola de samba da cidade.
Quando a verde e branco do Morro do Abacaxi, pisou na Avenida Amaral Peixoto, mas primeiras horas de segunda-feira “gorda” de carnaval trazendo o magnífico enredo "O Brasil pintado por Debret”. Ninguém teve duvida de apontá-la como a futura vencedora do carnaval de 1967.
Ao abrirem os envelopes dias depois, não deu outra: Cubango campeã do carnaval com nove pontos à frente da segunda colocada que foi a escola de samba do Morro do Estado, a saudosa Império do Estado.
Apesar de amargar um quarto lugar e ver surgir uma rival que a partir daquele momento lhe tomaria muitos titulos de campeã do carnaval niteroiense. O ano de 1967, não foi totalmente desastroso para Unidos do Viradouro. Seu samba enredo cuja letra aparece escrita na íntegra no final desta crônica, foi considerado pela critica como belo samba enredo daquele ano.
“A festa do divino na Bahia”, enredo da Viradouro de 1967, retratava de forma fantástica em sua letra, o sincretismo religioso na capitania baiana na época do Brasil colônia.Com uma letra extensa que procurava narrar de forma cronológica e meticulosa a veracidade dos fatos históricos.
Por tanto este foi o carnaval niteroiense de 1967. Recordá-lo como fizemos nesta crônica é mostrar que muito antes do grande escrito baiano Jorge Amado, classificar o carnaval de Niterói como o segundo melhor do Brasil, a cidade já fazia festas carnavalescas que lhe dava jus a tal titulo.
Samba enredo da Unidos do Viradouro de 1967
Titulo - Festa do Divino na Bahia
Antigamente na Bahia
Acontecia, uma festa de muita alegria
Realmente era lindo
Ver tanta gente sorrindo
Ôôôôôô...
Era o povo pela praça
Cantando cheio de graça
Ôôôôôô...
Ê o bailar dos sinos
Anunciava o divino
Em belo e rico ritual
Os vices reis logo chegavam
Em belas carruagens
Era motivo de orgulho
Glorias e homenagens
Eram matizes multicores
Inebriantes e febris
De panoramas sedutores
E belezas tão sutis
Desfilavam as cavalhadas
Preto velho das congadas
A exibição da capoeira
O refrão da baiana faceira
Quem é que não quer o vatapá?
E o manguzá do tabuleiro de Iaiá?
II
É da Bahia de outrora esta história
É da Bahia tão formosa primorosa
Festa do divino da Bahia colossal
Fatos tão marcantes do Brasil colonial
Ôôôôôô
Festa do povo, lá em salvador
foto: divulgação
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Prof. Mariano
Pesquisador e carnavalesco do carnaval de Niterói
Balanço do Fonseca sai na frente com a escolha de um grande enredo para carnaval de 2010.
Em tempos de enredo vazio de conteúdo e de difícil entendimento, é louvável a escolha do café como tema de enredo da querida escola de samba de Niterói Balanço do Fonseca.
Apesar de ter sido explorando algumas vezes na avenida, o café é um assunto que ainda nos revela grandes curiosidades, senão vejamos: no Brasil, escravos e café tiveram uma origem comum: a África. Natural das Montanhas da Abissínia (atual Etiópia), o café era originalmente comido em forma de pasta. A entrada no mundo árabe mudou seu tratamento. Passou a ser torrado, reduzido a pó e lançado em água fervente. Ainda hoje se chama “Café turco”. De comida, passou a bebida, mas não coado. O intenso contato entre árabes e as cidades italianas, principalmente a partir do século XVII, acabou por introduzir o café na Europa, o qual recebeu mais um acréscimo em sua preparação: a filtragem, pois os italianos não apreciavam a sua borra. Estava criada a forma de preparo da bebida, utilizada até os dias de hoje.
Em relação à cultura produzida pelos chamados Barões do café, a construção das nossas salas de jantares, com seus talheres e mesas longas, foi uma tradição feita por esses homens, que sustentavam o poder e lançavam modas.
No plano político, uma coisa que não foi muito abordada nos outros enredos que falaram do café, foi à aliança café e política.
O poder de Minas Gerais nesse período é explicado não pela força econômica do gado de leite, mas pela sua projeção política garantida pela bancada de 37 deputados, a maior do país. E a influência de Minas também deriva da forte cafeicultura, já que foi o segundo maior produtor de café do Brasil até o final da década de 1920, sendo responsável por 20% em média da produção nacional. Por esses dados cai por terra aquela história da republica do “Café com leite”. A expressão mais adequada para pré-suposta aliança Minas Gerais-São Paulo seria então “Café com Café”.
Como vocês podem ver, o tema café ainda pode trazer muitas novidades e singularidades pesquisadas sobre o assunto.
Esperamos que o carnavalesco responsável pela materialização do enredo do Balanço do Fonseca possa fazer de um tema já visto em outros carnavais, um desfile original. Pesquisa tem , é só vasculhar.
foto:divulgção
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Prof. Mariano
Pesquisador e carnavalesco do carnaval de Niterói
Apesar de ter sido explorando algumas vezes na avenida, o café é um assunto que ainda nos revela grandes curiosidades, senão vejamos: no Brasil, escravos e café tiveram uma origem comum: a África. Natural das Montanhas da Abissínia (atual Etiópia), o café era originalmente comido em forma de pasta. A entrada no mundo árabe mudou seu tratamento. Passou a ser torrado, reduzido a pó e lançado em água fervente. Ainda hoje se chama “Café turco”. De comida, passou a bebida, mas não coado. O intenso contato entre árabes e as cidades italianas, principalmente a partir do século XVII, acabou por introduzir o café na Europa, o qual recebeu mais um acréscimo em sua preparação: a filtragem, pois os italianos não apreciavam a sua borra. Estava criada a forma de preparo da bebida, utilizada até os dias de hoje.
Em relação à cultura produzida pelos chamados Barões do café, a construção das nossas salas de jantares, com seus talheres e mesas longas, foi uma tradição feita por esses homens, que sustentavam o poder e lançavam modas.
No plano político, uma coisa que não foi muito abordada nos outros enredos que falaram do café, foi à aliança café e política.
O poder de Minas Gerais nesse período é explicado não pela força econômica do gado de leite, mas pela sua projeção política garantida pela bancada de 37 deputados, a maior do país. E a influência de Minas também deriva da forte cafeicultura, já que foi o segundo maior produtor de café do Brasil até o final da década de 1920, sendo responsável por 20% em média da produção nacional. Por esses dados cai por terra aquela história da republica do “Café com leite”. A expressão mais adequada para pré-suposta aliança Minas Gerais-São Paulo seria então “Café com Café”.
Como vocês podem ver, o tema café ainda pode trazer muitas novidades e singularidades pesquisadas sobre o assunto.
Esperamos que o carnavalesco responsável pela materialização do enredo do Balanço do Fonseca possa fazer de um tema já visto em outros carnavais, um desfile original. Pesquisa tem , é só vasculhar.
foto:divulgção
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Prof. Mariano
Pesquisador e carnavalesco do carnaval de Niterói
“Os morros cariocas como origem das nossas escolas de samba”
Nos dias atuais está cada vez mais difícil uma escola de samba do Rio de Janeiro se assumir como produto cultural dos morros cariocas. A maioria delas, principalmente as grandes escolas de samba, se classifica como empresas que visam muito mais defender seus negócios capitalistas, do que ser um pólo de defesa das raízes do mundo do samba.
Tal postura se desenvolveu historicamente a partir dos anos sessenta, quando as escolas de samba começaram abandonar seus artistas locais e sua comunidade, para se aproximar e compartilhar interesses com a classe média, transformando assim o carnaval tradicional e popular em um produto de cultura de massa que atenderia aos interesses de mercado da época.
Por isso quero neste espaço resgatar à origem popular das nossas escolas de samba. Tudo começa lá no inicio do século XX, quando o recém criado estado republicano com sua política segregadora “ofereceu” aos pobres, em sua maioria de etnia negra, os morros como locais de moradia e desenvolvimento social. Ali sem a presença responsável do governo, se desenrolaram vários problemas sociais, mas também nasceram nossas escolas de samba que transformaram aqueles lugares a principio inóspitos, em almas sonoras da cidade do Rio de Janeiro. Estas agremiações revelaram através dos seus desfiles enredos, a forma de pensar da negritude carioca.
Mas infelizmente no final de década de sessenta para cá, muitas escolas fizeram questão de se afastar das suas origens de morros para se transformarem em escola S.A. e sem identidade. Dois exemplos clássicos de tal atitude foram realizados por Salgueiro e Portela no inicio da década setenta. O Salgueiro deixou de ensaiar na sua histórica quadra Casemiro calça larga no alto do morro, para ensaiar no Clube Maxwell, e a Portela passou a promover ensaios no bairro de Botafogo na zona sul carioca, bem longe das raízes suburbanas.
Estamos presenciando no Rio de Janeiro a esdrúxula construção de muros para conterem o avanço de morros cariocas. Se tivéssemos feito isso na época do surgimento das nossas queridas escolas de samba, não teríamos hoje nossa Mangueira, Estácio de Sá, Império Serrano, Unidos da Tijuca, Vila Isabel e outras tantas escolas do Rio de Janeiro que nasceram dos morros.
Nós sambistas e intelectuais do samba temos que ver o morro como estrutura orgânica, social e histórica, que mantém ali toda existência e a experiência de um povo, que ajudou a construir a nossa brasilidade através do samba.
Foto: Morro da mangueira
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Prof. Mariano
Pesquisador e carnavalesco do carnaval de Niterói
Tal postura se desenvolveu historicamente a partir dos anos sessenta, quando as escolas de samba começaram abandonar seus artistas locais e sua comunidade, para se aproximar e compartilhar interesses com a classe média, transformando assim o carnaval tradicional e popular em um produto de cultura de massa que atenderia aos interesses de mercado da época.
Por isso quero neste espaço resgatar à origem popular das nossas escolas de samba. Tudo começa lá no inicio do século XX, quando o recém criado estado republicano com sua política segregadora “ofereceu” aos pobres, em sua maioria de etnia negra, os morros como locais de moradia e desenvolvimento social. Ali sem a presença responsável do governo, se desenrolaram vários problemas sociais, mas também nasceram nossas escolas de samba que transformaram aqueles lugares a principio inóspitos, em almas sonoras da cidade do Rio de Janeiro. Estas agremiações revelaram através dos seus desfiles enredos, a forma de pensar da negritude carioca.
Mas infelizmente no final de década de sessenta para cá, muitas escolas fizeram questão de se afastar das suas origens de morros para se transformarem em escola S.A. e sem identidade. Dois exemplos clássicos de tal atitude foram realizados por Salgueiro e Portela no inicio da década setenta. O Salgueiro deixou de ensaiar na sua histórica quadra Casemiro calça larga no alto do morro, para ensaiar no Clube Maxwell, e a Portela passou a promover ensaios no bairro de Botafogo na zona sul carioca, bem longe das raízes suburbanas.
Estamos presenciando no Rio de Janeiro a esdrúxula construção de muros para conterem o avanço de morros cariocas. Se tivéssemos feito isso na época do surgimento das nossas queridas escolas de samba, não teríamos hoje nossa Mangueira, Estácio de Sá, Império Serrano, Unidos da Tijuca, Vila Isabel e outras tantas escolas do Rio de Janeiro que nasceram dos morros.
Nós sambistas e intelectuais do samba temos que ver o morro como estrutura orgânica, social e histórica, que mantém ali toda existência e a experiência de um povo, que ajudou a construir a nossa brasilidade através do samba.
Foto: Morro da mangueira
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Prof. Mariano
Pesquisador e carnavalesco do carnaval de Niterói
Uma Rosa na Ilha
Depois de dezessete anos chegou ao fim o casamento da carnavalesca Rosa Magalhães com a Imperatriz Leopoldinense, união que deu à escola da Leopoldina cinco campeonatos e fez de Rosa a carnavalesca que mais ganhou títulos na era sambódromo.
Para o carnaval de 2010 Rosa Magalhães vai emprestar o talento de sua arte à União da Ilha do Governador, escola de Aroldo Melodia, Didi, Aurinho da Ilha, Waldir da Vala, Robertinho Devagar, Maria Augusta e outros bambas. Uma histórica agremiação que estava fazendo falta no grupo de elite do carnaval carioca.
Para o carnaval de 2010 Rosa Magalhães vai emprestar o talento de sua arte à União da Ilha do Governador, escola de Aroldo Melodia, Didi, Aurinho da Ilha, Waldir da Vala, Robertinho Devagar, Maria Augusta e outros bambas. Uma histórica agremiação que estava fazendo falta no grupo de elite do carnaval carioca.
A ida desta artista para a União da Ilha me faz lembrar a sua passagem pelo Império Serrano, quando ao lado de Lícia Lacerda em 1982, fez o antológico enredo "Bumbum paticumbum prugurundum" (foto), conquistando o seu primeiro título como carnavalesca e dando à escola da Serrinha sua última conquista no grupo especial das escolas do Rio. Naquele carnaval Rosa, aproveitando o estilo tradicional e popular do Império Serrano, criou um enredo onde prevaleceu a simplicidade e criatividade. Com muita espontaneidade e poesia Rosa desbancou as poderosas "Escolas S.A." da época, e fez de um trabalho simples um dos momentos de maior emoção que o carnaval carioca assistiu.
Agora, União da Ilha, uma escola que a exemplo do Império tem um caráter popular, Rosa pode ajudar a tricolor carioca na sua permanência no grupo especial e com alguma sorte voltar no desfile das campeãs.
Este ano, no seu último trabalho pela Imperatriz, Rosa Magalhães surpreendeu muita gente. Justificada pela dificuldade financeira, apresentou na Sapucaí uma Imperatriz muito modesta, singela, mas bonita. Sua comissão de frente era genial: trazia um grupo de bate bolas que revelava com muita alegria e lirismo a cultura suburbana do bairro de Ramos. Seus carros alegóricos pequenos, mas bem acabados, fizeram do desfile da Imperatriz um momento que, senão foi deslumbrante e luxuoso como outrora, foi um dos mais singulares que passaram pela passarela do samba.
Acho que a direção da União da Ilha acertou na contratação de Rosa Magalhães. Será uma oportunidade para esta artesã de sonhos reciclar o seu trabalho para, quem sabe, fazer da União da Ilha uma escola de samba como no seu brilhante passado: popular, jocosa e irreverente.
Este ano, no seu último trabalho pela Imperatriz, Rosa Magalhães surpreendeu muita gente. Justificada pela dificuldade financeira, apresentou na Sapucaí uma Imperatriz muito modesta, singela, mas bonita. Sua comissão de frente era genial: trazia um grupo de bate bolas que revelava com muita alegria e lirismo a cultura suburbana do bairro de Ramos. Seus carros alegóricos pequenos, mas bem acabados, fizeram do desfile da Imperatriz um momento que, senão foi deslumbrante e luxuoso como outrora, foi um dos mais singulares que passaram pela passarela do samba.
Acho que a direção da União da Ilha acertou na contratação de Rosa Magalhães. Será uma oportunidade para esta artesã de sonhos reciclar o seu trabalho para, quem sabe, fazer da União da Ilha uma escola de samba como no seu brilhante passado: popular, jocosa e irreverente.
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Prof. Mariano
Prof. Mariano
Pesquisador e carnavalesco do carnaval de Niterói
Cuidado com o carnaval do fluxo!
Vejo com certa preocupação a possível decisão de permitir que blocos carnavalescos e escolas de samba de municípios vizinhos desfilem no carnaval de Niterói.
Transformar Niterói numa espécie de “metrópole” do carnaval do Estado do Rio, onde agremiações de outras cidades encontrariam a segurança de um bom “negócio” e a certeza de ter alcançado o “progresso”, é algo que deve ser avaliado também por outros aspectos, e não apenas pelo lado competitivo e consumista.
Uma agremiação carnavalesca quando nasce, trás dentro de si a raiz de sua comunidade. Ambas compartilham experiências sociais que fazem delas partes integrantes de um elo cultural. A partir daí, agremiação carnavalesca e comunidade passam a construir uma história singular de sentimento recíproco e vinculante.
Desfazer tais laços parece uma missão hoje num mundo em fluxo, onde nada pode ficar no lugar e sim deve seguir o rumo dos interesses dominantes do mercado.
Cabe a nós, que amamos o samba e sabemos de sua importância como revelador dos aspectos sociais e culturais do nosso povo mais humilde, discutir de forma crítica, negociar e enfrentar estes movimentos que tentam descaracterizar e banalizar o mundo do samba.
Permitir que o carnaval de Niterói esteja aberto à participação de agremiações de outros municípios pode transformá-lo em algo sem identidade. Sem contar que tal postura pode empobrecer e esvaziar ao logo do tempo os carnavais das outras cidades.
O próprio carnaval de Niterói experimentou um período de trevas na década de noventa. Dentre os motivos para tal situação sem duvida nenhuma estava a ida das escolas da cidade para desfilarem no carnaval do Rio de janeiro.
Hoje o carnaval se encontra inchado, descaracterizado e dividido socialmente. Muitas escolas tradicionais da cidade do Rio de Janeiro estão à beira de enrolarem suas bandeiras. Enquanto isso você olha para carnaval da baixada fluminense e ele inexiste, mas suas escolas hoje dominam em participação o carnaval carioca. Existe um apartheid social no carnaval da cidade do Rio, fruto de fluxo que quer fazer da festa mais popular do Brasil apenas um objeto de lucro.
Carnaval é um fenômeno social, e como tal deve ter modelo de desenvolvimento que leve em consideração esse aspecto, pois senão estaremos apenas reproduzindo as contradições do sistema capitalista no mundo do samba.
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Professor Mariano
é historiador e pesquisador do carnaval
Vinte anos se vão do desfile de contrastes na Sapucaí
Faz vinte anos que a passarela Darcy Ribeiro vivenciou um dos seus grandes momentos em se tratando do desfile do grupo especial das escolas de samba do Rio de janeiro. Foi quando o público e crítica viram dois grandes espetáculos, mas que eram antagônicos nas suas propostas de enredo. Estou me referindo aos desfiles apresentados por Imperatriz Leopoldinense e Beija Flor de Nilópolis no carnaval de 1989.
A Imperatriz veio com o enredo “Liberdade, liberdade! Abra as asas sobre nós!”, pegando carona no centenário da Proclamação da República. A escola da Leopoldina desenvolveu este tema, se detendo numa narrativa correta dos acontecimentos que levaram ao fim o Império no Brasil e o início da República. Já o Beija Flor preferiu fazer uma reflexão mais sociológica da situação sócio econômico e cultural do Brasil produzida pela República, e levou para a avenida o tema “Ratos e urubus larguem minha fantasia” desfile onde a marca foi delírio da criação carnavalesca.
Enquanto o enredo da Imperatriz tentava recuperar um estilo que estava decadente naquela época, procurando ser fiel aos fatos históricos sem criticá-los, a Beija Flor consagrou um estilo de enredo que já era tendência nos desfiles desta época. Neste estilo o que valia era o texto livre da censura e o protesto do discurso como arma contra uma situação sócio econômico que enfastiava o povo brasileiro.
Ambos os enredos revelaram esteticamente com seus desfiles, lados opostos da República. A imperatriz mostrava uma versão oficial da história da Proclamação da República, ovacionando seus símbolos e heróis. Já a Beija Flor com seu enredo politicamente correto, trazia para Sapucaí uma estética agressiva que rasgar o véu da hipócrita República, que perambulava em meio ao mar de contrastes.
Independentemente do resultado dado pelo jurado, que consagrou a Imperatriz como campeã do carnaval de 1989 e a Beija Flor como vice, o que ficam nestes dois grandes desfiles são os seus valores artísticos e estéticos que revelam as facetas de dois grandes artistas que duelaram com duas concepções de artes distintas, mas de grande impacto visual. Estamos falando da Max Lopes pela Imperatriz e Joãozinho Trinta pela Beija Flor.
Estamos disponibilizando um pouquinho dos dois desfiles para que vocês, leitores desta coluna, possam alterar ou não o resultado deste duelo.
Participe, votando na enquete ao lado!
Imperatriz: http://www.youtube.com/watch?v=Q8BbyYAJmQM
Beija Flor: http://www.youtube.com/watch?v=P0RFeVUAH9w
A Imperatriz veio com o enredo “Liberdade, liberdade! Abra as asas sobre nós!”, pegando carona no centenário da Proclamação da República. A escola da Leopoldina desenvolveu este tema, se detendo numa narrativa correta dos acontecimentos que levaram ao fim o Império no Brasil e o início da República. Já o Beija Flor preferiu fazer uma reflexão mais sociológica da situação sócio econômico e cultural do Brasil produzida pela República, e levou para a avenida o tema “Ratos e urubus larguem minha fantasia” desfile onde a marca foi delírio da criação carnavalesca.
Enquanto o enredo da Imperatriz tentava recuperar um estilo que estava decadente naquela época, procurando ser fiel aos fatos históricos sem criticá-los, a Beija Flor consagrou um estilo de enredo que já era tendência nos desfiles desta época. Neste estilo o que valia era o texto livre da censura e o protesto do discurso como arma contra uma situação sócio econômico que enfastiava o povo brasileiro.
Ambos os enredos revelaram esteticamente com seus desfiles, lados opostos da República. A imperatriz mostrava uma versão oficial da história da Proclamação da República, ovacionando seus símbolos e heróis. Já a Beija Flor com seu enredo politicamente correto, trazia para Sapucaí uma estética agressiva que rasgar o véu da hipócrita República, que perambulava em meio ao mar de contrastes.
Independentemente do resultado dado pelo jurado, que consagrou a Imperatriz como campeã do carnaval de 1989 e a Beija Flor como vice, o que ficam nestes dois grandes desfiles são os seus valores artísticos e estéticos que revelam as facetas de dois grandes artistas que duelaram com duas concepções de artes distintas, mas de grande impacto visual. Estamos falando da Max Lopes pela Imperatriz e Joãozinho Trinta pela Beija Flor.
Estamos disponibilizando um pouquinho dos dois desfiles para que vocês, leitores desta coluna, possam alterar ou não o resultado deste duelo.
Participe, votando na enquete ao lado!
Imperatriz: http://www.youtube.com/watch?v=Q8BbyYAJmQM
Beija Flor: http://www.youtube.com/watch?v=P0RFeVUAH9w
Mudanças históricas nas baterias das grandes escolas de samba do Rio de Janeiro
Quem for à Marques de Sapucaí assistir aos desfiles do carnaval de 2010 tomará um susto ao ouvir a bateria de algumas escolas de samba do Grupo Especial, pois depois do resultado do último carnaval as diretorias de algumas escolas resolveram alterar o posto daqueles que tem a responsabilidade de reger suas orquestras de percussão.
Algumas destas mudanças considero históricas, pois num carnaval extremamente capitalista, como o que nós estamos vivendo, manter um mestre de bateria à frente da sua escola por dez ou trinta anos é algo raro e singular.
Mas este ano os presidentes das escolas de samba do Grupo Especial resolveram de uma só vez acabar com esta tradição e dispensaram seus mestres de bateria que tinham raízes históricas com suas escolas.
A Vila Isabel pelo jeito aposentou o talentoso mestre Mug que vinha há mais de trinta anos à frente da bateria da azul e branca. Foi ele quem comandou o ritmo da escola nos títulos de 1988 e 2006. A Unidos do Viradouro não conta mais com os serviços de mestre Ciça, que após um longo trabalho fez da bateria da vermelho e branco de Niterói sua imagem.
Mas este ano os presidentes das escolas de samba do Grupo Especial resolveram de uma só vez acabar com esta tradição e dispensaram seus mestres de bateria que tinham raízes históricas com suas escolas.
A Vila Isabel pelo jeito aposentou o talentoso mestre Mug que vinha há mais de trinta anos à frente da bateria da azul e branca. Foi ele quem comandou o ritmo da escola nos títulos de 1988 e 2006. A Unidos do Viradouro não conta mais com os serviços de mestre Ciça, que após um longo trabalho fez da bateria da vermelho e branco de Niterói sua imagem.
O Império Serrano desfez o seu casamento com mestre Átila, que deu à bateria da Serrinha um andamento peculiar a sua formação musical.
Mas a saída que me causou mais surpresa foi a de mestre Odilon da Acadêmicos da Grande Rio, senão vejamos: mestre Odilon introduziu na bateria da escola de Caxias um estilo de tocar que conseguia harmonizar o andamento da bateria com o estilo do samba escolhido pela agremiação. Nunca se viu mestre Odilon acelerando o andamento da sua bateria para satisfazer um samba vencedor, mas de qualidade duvidosa. Paradinhas inúteis mestre Odilon não faz só para levantar o setor 1, enfim acho que a Grande Rio vai perder muito com a saída de mestre Odilon. Não quero aqui condenar a mudança feita pela escola, pois não sei quais foram às razões para tal, só acho que a substituição do mestre Odilon por Ciça, será um corte muito profundo no estilo de tocar dos ritmistas da Grande Rio, pois considero o ex-mestre da Viradouro antítese de Odilon. Mas como tradição não é uma coisa que a Grande Rio valoriza muito, basta ver o seu desfile na Sapucaí com mais celebridades do que comunidade. Acabo tendo que concordar que a mudança feita no comando da bateria é algo coerente com sua história.
Mas a saída que me causou mais surpresa foi a de mestre Odilon da Acadêmicos da Grande Rio, senão vejamos: mestre Odilon introduziu na bateria da escola de Caxias um estilo de tocar que conseguia harmonizar o andamento da bateria com o estilo do samba escolhido pela agremiação. Nunca se viu mestre Odilon acelerando o andamento da sua bateria para satisfazer um samba vencedor, mas de qualidade duvidosa. Paradinhas inúteis mestre Odilon não faz só para levantar o setor 1, enfim acho que a Grande Rio vai perder muito com a saída de mestre Odilon. Não quero aqui condenar a mudança feita pela escola, pois não sei quais foram às razões para tal, só acho que a substituição do mestre Odilon por Ciça, será um corte muito profundo no estilo de tocar dos ritmistas da Grande Rio, pois considero o ex-mestre da Viradouro antítese de Odilon. Mas como tradição não é uma coisa que a Grande Rio valoriza muito, basta ver o seu desfile na Sapucaí com mais celebridades do que comunidade. Acabo tendo que concordar que a mudança feita no comando da bateria é algo coerente com sua história.
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Professor Mariano
Pesquisador e Carnavalesco
As igrejas evangélicas e o carnaval
O episodio da possível venda da legendaria quadra da Corações Unidos, que hoje abriga o Bloco União da Engenhoca, para uma igreja evangélica, invoca uma discussão muito interessante, mas pouco explorada no mundo do samba. Há muito tempo existe nas comunidades pobres do Rio de Janeiro um trabalho muito forte por parte destas igrejas evangélicas de enfraquecer social e culturalmente as agremiações carnavalescas, sejam elas blocos ou escolas de samba e, assim, desfazer seus vínculos de identidade com suas comunidades.
Quem milita no carnaval sabe que há muitos anos encontramos sérias dificuldades em levar para a avenida a famosa ala das baianas. Já ocorreu em vários carnavais de as agremiações perderem pontos por levarem um número insuficiente de baianas para avenida. Pesquisas antropológicas feitas em algumas agremiações apontam que um dos motivos para esse desaparecimento de componentes nas alas das baianas se dar pelo fato do assédio feito pelas igrejas evangélicas nas camadas mais idosas da comunidade. O trabalho de catequese que é feito na cabeça das senhoras está fazendo ao logo do tempo com que elas troquem as fantasias pelas bíblias.
Tal fenômeno ocorrido nas alas das baianas acabou num certo momento influenciando para diminuição do número de componentes das agremiações, pois, por exercerem muitas das vezes o papel de chefe da família, mãe e avó, estas mulheres acabam de uma certa forma, convencendo familiares e seu ciclo de amizade a se afastarem do mundo carnavalesco. Por isso é que hoje várias agremiações têm muita dificuldade de ter um número mínimo de componentes para desfilar no carnaval.
Não quero, com esta reflexão, causar nenhum clima de rivalidade entre religião e carnaval, pois acho que o carnaval, de um certo modo, é uma festa com contornos religiosos. O que trago é um olhar para algo que é latente, e se, de algum modo, vem sendo bom para as igrejas evangélicas, parabéns para elas, mas para o carnaval e suas agremiações tal fenômeno social vem sendo muito ruim, pois escola e blocos estão cada ano minguando em relação o número de componentes.
E qual seria a solução para tal problema? Como professor, acho que as escolas da rede pública têm que acrescentar nos seus currículos de história e ensino religioso o tema carnaval. Abordando a musicalidade, história e religiosidade das nossas agremiações carnavalescas. Democratizando a informação na escola pública estaremos fazendo com que as futuras gerações entendam melhor, e com menos preconceitos, as culturas afros.
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Professor Mariano
Professor Mariano
é comentarista, pesquisador e carnavalesco
Corações Unidos: uma parte da história do carnaval de Niterói
No último domingo foi comemorado na antiga quadra da Corações Unidos, o primeiro aniversário do Bloco Carnavalesco União da Engenhoca, bem como o campeonato conquistado pela agremiação no carnaval de Niterói. Mas uma questão vem sendo discutida intensamente na comunidade da engenhoca, que é a possível venda da sua quadra de ensaios.
Apesar de admitirmos que aos donos de qualquer propriedade privada, lhes cabem dá o destino que convém ao seu imóvel. O caso específico da quadra da Corações Unidos requer uma reflexão, pois o possível fim daquele espaço carnavalesco representaria o desaparecimento de parte da memória do carnaval de Niterói. Carnaval este que vem a cada ano, com a luta da UESCN junto com os sambistas, se revitalizando e voltando a ser uma festa bastante popular.
Após 23 anos de silêncio um obstinado grupo de sambistas trouxe de volta a história da Corações Unidos, abrindo sua quadra e depois no seu projeto de carnaval homenageando-a com o enredo “Na união da engenhoca os corações contam sua história”. Hoje aquele espaço trás todo um simbolismo que une o passado glorioso daquela que foi um dos maiores ícones do carnaval de Niterói, com presente promissor do Bloco União da Engenhoca que no seu primeiro desfile valendo titulo sagrou-se campeão.
Precisamos por tanto discutir com a sociedade, pois não se trata de uma venda qualquer, mas a perda de um patrimônio da história da cultura popular, que não pode ser descartada sem que haja um dialogo com os atores envolvidos. Pois nas questões que abrangem cultura e sociedade, não basta tão somente o aspecto financeiro, mas sensibilidade para entender a importância das manifestações populares na construção da cultura brasileira.
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Professor Mariano
é professor de História, pesquisador do carnaval e colunista do blog na “Cadência da Bateria”
O bizzarro choque de ordem no carnaval
Está em moda na política carioca o tal choque de ordem, uma prática de estado, há muito tempo adotada pela nossa elite e que historicamente nunca resolveu nossos problemas sociais. Se não bastasse sua ineficácia para dar solução as nossas contradições sociais do dia a dia, nossos políticos querem aplicá-la no carnaval. Tal postura é, no mínimo, bizarra, pois vai de encontro à própria filosofia carnavalesca, que é justamente romper, pelo menos nos quatro dias de folia, com a monotonia da ordem pública, que na maioria das vezes é estafante sem vida e só beneficia uma burocracia parasitária do Estado.
Agora que o carnaval de rua carioca mostra sinais de estar voltando com toda força, espontaneidade e irreverência, os setores conservadores e retrógrados começam a elaborar planos para inibir a criação e a realização dos blocos de rua.
Desde o tempo do império que o carnaval é uma oportunidade para os que estão na base de sustentação da pirâmide mostrarem com gestos burlescos sua insatisfação com seu cotidiano. Foi assim que os escravos demonstraram nos dias de momo sua revolta com a política adotada pela nobreza. Na república, os blocos de ruas que passaram a ocupar as avenidas dos grandes centros urbanos, aproveitavam seus desfiles para protestarem contra o choque de ordem dado pela insensível república velha.
Portanto, está na cultura do carnaval de rua a quebra de normas. O rito que se cultua é o do desvario carnavalesco.
Se hoje as pessoas mijam nas ruas não é culpa do excesso de agremiações carnavalescas, é muito mais um sintoma da total falta de identidade das pessoas com essa tal ordem pública. e isto não se resolve com choque de ordem, mais com diálogo do poder público com a sociedade civil.
O tempo que os nossos políticos perdem elaborando planos para conter a espontaneidade das festas populares, como o futebol e o carnaval, eles deveriam sim dar um choque nas suas administrações, mais um choque de imaginação para que suas políticas públicas não continuem sendo mera fantasia na vida de nós, cidadãos comuns.
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Professor Mariano
é professor de História, pesquisador do carnaval e colunista do blog na “Cadência da Bateria”
Agora que o carnaval de rua carioca mostra sinais de estar voltando com toda força, espontaneidade e irreverência, os setores conservadores e retrógrados começam a elaborar planos para inibir a criação e a realização dos blocos de rua.
Desde o tempo do império que o carnaval é uma oportunidade para os que estão na base de sustentação da pirâmide mostrarem com gestos burlescos sua insatisfação com seu cotidiano. Foi assim que os escravos demonstraram nos dias de momo sua revolta com a política adotada pela nobreza. Na república, os blocos de ruas que passaram a ocupar as avenidas dos grandes centros urbanos, aproveitavam seus desfiles para protestarem contra o choque de ordem dado pela insensível república velha.
Portanto, está na cultura do carnaval de rua a quebra de normas. O rito que se cultua é o do desvario carnavalesco.
Se hoje as pessoas mijam nas ruas não é culpa do excesso de agremiações carnavalescas, é muito mais um sintoma da total falta de identidade das pessoas com essa tal ordem pública. e isto não se resolve com choque de ordem, mais com diálogo do poder público com a sociedade civil.
O tempo que os nossos políticos perdem elaborando planos para conter a espontaneidade das festas populares, como o futebol e o carnaval, eles deveriam sim dar um choque nas suas administrações, mais um choque de imaginação para que suas políticas públicas não continuem sendo mera fantasia na vida de nós, cidadãos comuns.
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é professor de História, pesquisador do carnaval e colunista do blog na “Cadência da Bateria”
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