A opinião do pesquisador e historiador sobre os acontecimentos do carnaval

Os 100 anos da Estrela do Império Serrano, Mano Décio da Viola

Se fosse vivo, Mano Décio da Viola teria completado no último dia quatorze, 100 anos de idade.
Nada mais justo, portanto, de rendermos uma homenagem nesta coluna a este baiano de alma carioca, que tanto fez pelo samba e pelo carnaval do Rio de Janeiro.
Vamos recordar um pouco à trajetória e o sucesso deste compositor negro, que lotou com muita dignidade contra o destino que a sociedade de classes lhe impôs.
Vindo para o Rio de Janeiro ainda bebê, Mano Décio teve uma infância muito dura, do ponto de vista social, mas desde o inicio o samba e o carnaval já reservavam a este talento, um destino de vitória e consagração.


Nas décadas de 20 e 30, mano Décio peregrinou por vários morros cariocas, freqüentando várias agremiações carnavalescas importantes do Rio de Janeiro como: Rancho Príncipe das Matas do Morro da Mangueira e a Escola de Samba Recreio de Ramos.
Mas foi em Madureira que brilhou a estrela a estrela de Mano Décio, primeiro como Admirador dos desfiles da Prazer da Serrinha. No inicio dos anos 40 e depois, como componente da escola e um dos revolucionários, que iria romper com a gestão centralizadora e capitalista do presidente Alfredo Costa, que cobrava ingresso do sambista freqüentador da escola.


Em 1946, Mano Décio da viola e Silas de oliveira compuseram para o desfile da Prazer da Serrinha um samba cuja letra interpretava o enredo da agremiação. Os dois compositores criaram o que mais tarde se convencionou a chamar de samba enredo. Até então, a música do carnaval não tinha a ver com a narrativa que o desfile apresentava através das fantasias e estandartes. A Prazer da Serrinha estava pronta para fazer história no desfile das escolas de samba daquele ano. Contudo, um pouco antes de começar o desfile, o presidente da escola decidiu vetar o samba e colocar uma canção simples no lugar.



Mano Décio da viola, Silas de Oliveira, Aniceto Menezes e Sebastião de Oliveira, o molequinho sob a proteção do pai de santo Mano Elói, fundaram em 23 de março de 1947 o Grêmio Recreativo Escola de Samba Império Serrano.
O primeiro samba campeão de Mano Décio foi “Exaltação a Tiradentes”, de 1949, que criou em parceria com Estanislau Silva e Penteado e com a ajudar da filha, que emprestou o livro escolar para auxiliá-lo. Esse samba foi gravado para o carnaval de 1955 como “Tiradentes”, configurando-se como o primeiro registro histórico de samba enredo.



Exaltação a Tiradentes (1949)
Império Serrano (RJ)
Composição: Mano Décio, Estanislau Silva e Penteado


EXALTAÇÃO A TIRADENTES

Joaquim José da Silva Xavier
Morreu a 21 de abril
Pela Independência do Brasil
Foi traído e não traiu jamais
A Inconfidência de Minas Gerais

Joaquim José da Silva Xavier
Era o nome de Tiradentes
Foi sacrificado pela nossa liberdade
Este grande herói
Pra sempre há de ser lembrado


Portanto lembrar-se de Mano Décio da viola é recordar um capítulo importantíssimo da história dos desfiles das escolas de samba. Capítulo que trás o germe do rompimento e da inovação, marcas fundamentais no caminhar do samba.


foto: divulgação
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Prof. Mariano
Pesquisador e carnavalesco do carnaval de Niterói

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