A opinião do pesquisador e historiador sobre os acontecimentos do carnaval

Colunista analisa os ensaios da Inocentes de Belford Roxo, Porto da Pedra e Vila Isabel

Ellen Roche mais uma vez brilho à frente da bateria da Porto da Pedra
                 No ultimo final de semana tivemos mais uma seqüência dos ensaios técnicos na Marquês de Sapucaí. No sábado Inocentes de Belford Roxo e Unidos do Porto da Pedra não empolgaram o público que compareceu ao evento. 
                  A escola da Baixada Fluminense fez um desfile esforçado, dentro das suas modestas possibilidades. O enredo que fala de Corumbá e com forte conotação indígena e nacional me agrada muito. O samba é valente, tem muita força e contempla bem o enredo da escola.
               A querida escola de São Gonçalo, a nossa Porto da Pedra vem com enredo muito questionável, pois fala do iogurte que convenhamos não dar samba. Tanto que o samba enredo da Porto da Pedra está sendo considerado o mais fraco da safra do grupo especial. Mesmo assim a comunidade de São Gonçalo abraçou o samba e soltou os pulmões na avenida. O destaque do ensaio do tigre foi sua magistral bateria que tendo a frente à esfuziante e bela Ellen Roche deu um banho de ritmo e beleza na avenida.
               No domingo assisti aos ensaios de Grande Rio e Vila Isabel. A escola de Caxias, a exemplo da Porto da Pedra tem um samba sofrível, mas que a comunidade abraçou. O enredo da Grande Rio que fala da superação e, tem um toque diferente que pode dar certo e emocionar o público no dia do desfile. Sobre o ensaio propriamente, a Grande Rio teve um problema com seu carro de som que pifou na avenida. Não se entendia sequer se distinguir o cavaco e o violão um do outro. Depois que passou a bateria, o ensaio caiu muito, pois a escola que até aquele momento vinha numa empolgação notável simplesmente parou de cantar e interagir com o público, que lotava as arquibancadas da Sapucaí.
              Para encerrar os ensaios deste final de semana veio a Vila Isabel. Com enredo que fala dos nossos irmãos angolanos a Vila fez um ensaio com a marca da sua comunidade. Com muita garra, samba no pé e na ponta da língua. E por falar no samba da Vila, ele trás o contra canto como novidade este ano. Para quem não sabe, o contra canto é quando o puxador da escola canta uma parte do samba e passa a outra parte para o coro da escola cantar. Ocorrendo assim o contra canto. Engraçado que a Vila fez isto no ensaio e se propõem a faze- lô no dia do desfile. No ensaio ficou direitinho vamos ver se vai funcionar no dia. Como a Vila é uma escola que ensaia muito e organizada acho que vai funcionar. Ainda sobre o samba da Vila quero ressaltar o desempenho do seu puxador, o bravo Tinga. Tinga tem talento, mas acho que exagera nos cacos, que são aqueles gritos que o puxador usa para animar a harmonia da escola. Tinga cantou pouco o elogiado samba da Vila deste ano. O ponto alto do ensaio da escola de Noel foi em minha opinião, a apresentação do casal de mestre sala e porta bandeira Ruth e Juninho que deram um show na avenida.
               É isso aí galera! Final de semana tem mais ensaios...até lá!               

Obra de jovens escritores preenche uma lacuna na literatura sobre escolas de samba

     No último dia 17 estive no lançamento do livro as três irmãs, de autoria de Alan Diniz, Alexandre Medeiros e Fabio Fabato. A festa foi muito bem prestigiada pelo mundo do samba. Estavam lá nomes como a inesquecível Pinah, Tiaozinho da Mocidade, Dominguinhos do Estácio, Velhas Guardas, Carnavalescos e etc. Tal fato teve sentido, pois a obra produzida por esses jovens intelectuais do samba é de ótima qualidade.
     Como pesquisador de Escola de Samba fico feliz que a Editora Nova Terra tenha abraçado esse projeto e ajudado a materializar este livro que vem preencher sem dúvida nenhuma uma lacuna que existia na literatura sobre escolas de samba. Beija Flor, Imperatriz e Mocidade romperam com o modelo de carnaval que vinham se fazendo até então e no qual Mangueira, Portela, Salgueiro e Império Serrano monopolizava as atenções e eram as maiores papas títulos.
     Alexandre, Alan e Fabato, tiveram a sensibilidade de narrar está revolução trazida pelas três irmãs com leveza, criatividade e muito talento.
     Já comecei a ler o livro e, no capítulo denominado os três espantos da criação Alan Diniz, foi extremamente feliz ao enxergar um determinismo quase cabalístico na relação das três escolas retratadas no trabalho com seus os carnavalescos. Segundo o autor, Arlindo Rodrigues, Joãosinho Trinta e Fernando Pinto foram feitos para as suas respectivas escolas que trabalharam e se consagraram. Arlindo para a Imperatriz, Joãosinho para a Beija Flor e Fernando para a Mocidade.
     Arlindo fez um casamento perfeito com a Imperatriz, segundo o autor, pois seu carnaval clássico e linear tinha a cara da escola da Leopoldina. Foi a dose perfeita para fazer uma nobre escola se sentir mais pomposa e garbosa.
Joãosinho Trinta vai transformar a Beija Flor de uma escola ‘’chapa branca “dos governos militares em matriz da imaginação anarquizante. Ratos e Urubus sem dúvida foi auge deste novo momento da escola de Nilópolis.
     E Finalmente Fernando Pinto, revolucionou a mocidade, que a partir da sua chegada, deixa de ser uma escola cercada de bateria, para se tornar uma escola organizada e luxuosa. Com seu tropicalismo imaginativo Fernando revelou um Brasil louco, mas livre da colonização estrangeira.
     Por todos esses singelos comentários feito sobre a obra desses rapazes é que recomendo a leitura deste livro, lançada por este talentoso trio de escritores.

Sambas de enredo 2012 do Grupo Especial: uma das piores safras da história do gênero


     Neste final de ano como de costume, comprei o CD das escolas de samba do grupo especial, versão 2012. Ao escutar fiquei decepcionado com a qualidade das obras apresentadas.
     Começando, por uma analise do samba da atual campeã Beija Flor, ele tem uma letra que embora, não fuja muito do senso comum, do uso de adjetivos e substantivos que já estão surrados no universo do samba, tem uma poesia minimamente apreciável, mas fica muito longe de outras obras da escola de Nilópolis produzidas, por exemplo, na década de 2000.
     Escutando o restante do CD, cheguei à conclusão, que é uma das piores safras dos últimos anos do grupo especial. Os sambas da Mangueira e da União da Ilha do Governador são de fazer chorar qualquer amante da ala de compositores destas duas fabulosas escolas.
     O samba da Mangueira tem um repetido sim no intervalo de uma frase, na segunda estrofe do samba, que ficou ridículo sonoramente. O ultimo refrão, vem com um jargão do tempo do Jamelão. Eu sou Mangueira, “a voz do morro”. Totalmente batido.
     “A União da Ilha, que já teve obras do quilate de “Domingo”, “O Amanhã”, O que será”? E É hoje, Vem para o carnaval 2012 com um samba sofrível. A melodia é parecida com a dos três últimos sambas da escola e, sua dissertação chega a ser bizarra em alguns momentos. Molho inglês no meu parco conhecimento culinário se bota num belo bife e não, na feijoada como diz a letra do samba.
      Agora, fazendo uma analise mais profunda do porque de tanta mediocridade num disco de samba enredo, não dá para botar tão somente na conta da mercantilização do concurso de samba ou na falta de qualidade e imaginação de alguns compositores. É preciso questionar a produção e gravação do disco de samba enredo.
     A indústria cultural transformou os sambas enredos em algo sem alma e identidade e o mais grave com a ajuda e consentimento de sambistas.
    Para encerrar, quero falar do samba da Portela que está sendo considerado pela critica como o melhor samba da escola de Madureira das ultimas décadas. Já vi gente falando que este samba é melhor do que de 1984 e 1995 da Portela. Em minha opinião isto é uma heresia. O samba 2012 da Portela é um bom samba que comparado com a baixíssima qualidade das outras obras deste ano, vira na cabeça de alguns marinheiros de primeira viagem, uma obra prima que não é na verdade.
    Analisando o samba da Portela podemos ver que o enredo é super batido, e sua poesia é trivial e óbvia. Mas o que surpreende  negativamente no samba da Portela de 2012 é sua melodia sem estética sonora. Se compararmos a melodia deste samba como o Gosto que me Enrosco de 1985, O ultimo da um banho de emoção sobre o primeiro.
   Esta na hora de nós amantes do samba enredo, alertarmos para onde estão levando o gênero musical que se transformou em trilha sonora da nossa História. Se não rompermos com este paradigma pasteurizado e sem imaginação o samba enredo vai desaparecer como os dinossauros da face da terra.