A opinião do pesquisador e historiador sobre os acontecimentos do carnaval

Recordar é viver!

Em meio ao anuncio do aumento do preço do cafezinho e da caixa de fósforos, que empobrecia ainda mais o cidadão comum brasileiro e, ajudava a desgastar a imagem do governo militar. Começava no ano de 1967, mais um carnaval na cidade de Niterói.

Ele teve como uma das suas maiores atrações, o desfile do tradicional Bloco Carnavalesco Inocentes Canibais(foto). Esta agremiação arrastava multidões pelas ruas da cidade na década de sessenta. Sua apoteose era a concentração e devoção realizada pelo povo aos pés da estátua de Araribóia no primeiro dia de carnaval.



Além do singular ritual carnavalesco dos Inocentes Canibais, o carnaval de rua da cidade sorriso teve na marchinha “Cachaceiro”, interpretada pelo famoso trio Icaraí, um momento de muita polêmica. Isto porque, as rádios da época boicotaram a execução da música carnavalesca. Ela falava dos hábitos do cotidiano popular. Neste coso abordava o tema “Beber uma cachaçazinha” e, enaltecia a figura do cachaceiro, que na letra da marcha, não era a pessoa que bebia muito, mas sim, o sujeito que fazia uma deliciosa cachaça.

Por achar a marchinha um pouco agressiva a moral e aos bons costumes da época, e para não terem talvez problemas com a censura, a maioria das rádios não tocou esta marcha, mas ela foi um grande sucesso na boca do povo nos quatro dias de momo.

Não poderíamos antes de encerrar esta crônica, deixarmos de falar no desfile das principais escolas de samba de Niterói no ano de 1967. Ele pode ser considerado um divisor de águas, no que diz respeito à disputa pelo titulo de campeão do carnaval niteroiense. Isto porque a nossa querida Acadêmicos do Cubango, depois de muitos títulos, e desfiles inesquecíveis na academia de Niterói, uma espécie de segundo grupo do carnaval de Niterói da época, estreava no grupo de elite da escola de samba da cidade.

Quando a verde e branco do Morro do Abacaxi, pisou na Avenida Amaral Peixoto, mas primeiras horas de segunda-feira “gorda” de carnaval trazendo o magnífico enredo "O Brasil pintado por Debret”. Ninguém teve duvida de apontá-la como a futura vencedora do carnaval de 1967.
Ao abrirem os envelopes dias depois, não deu outra: Cubango campeã do carnaval com nove pontos à frente da segunda colocada que foi a escola de samba do Morro do Estado, a saudosa Império do Estado.


Apesar de amargar um quarto lugar e ver surgir uma rival que a partir daquele momento lhe tomaria muitos titulos de campeã do carnaval niteroiense. O ano de 1967, não foi totalmente desastroso para Unidos do Viradouro. Seu samba enredo cuja letra aparece escrita na íntegra no final desta crônica, foi considerado pela critica como belo samba enredo daquele ano.
A festa do divino na Bahia”, enredo da Viradouro de 1967, retratava de forma fantástica em sua letra, o sincretismo religioso na capitania baiana na época do Brasil colônia.Com uma letra extensa que procurava narrar de forma cronológica e meticulosa a veracidade dos fatos históricos.
Por tanto este foi o carnaval niteroiense de 1967. Recordá-lo como fizemos nesta crônica é mostrar que muito antes do grande escrito baiano Jorge Amado, classificar o carnaval de Niterói como o segundo melhor do Brasil, a cidade já fazia festas carnavalescas que lhe dava jus a tal titulo.


Samba enredo da Unidos do Viradouro de 1967

Titulo - Festa do Divino na Bahia

Antigamente na Bahia
Acontecia, uma festa de muita alegria
Realmente era lindo
Ver tanta gente sorrindo
Ôôôôôô...
Era o povo pela praça
Cantando cheio de graça
Ôôôôôô...
Ê o bailar dos sinos
Anunciava o divino
Em belo e rico ritual
Os vices reis logo chegavam
Em belas carruagens
Era motivo de orgulho
Glorias e homenagens
Eram matizes multicores
Inebriantes e febris
De panoramas sedutores
E belezas tão sutis
Desfilavam as cavalhadas
Preto velho das congadas
A exibição da capoeira
O refrão da baiana faceira
Quem é que não quer o vatapá?
E o manguzá do tabuleiro de Iaiá?

II


É da Bahia de outrora esta história
É da Bahia tão formosa primorosa
Festa do divino da Bahia colossal
Fatos tão marcantes do Brasil colonial
Ôôôôôô
Festa do povo, lá em salvador


foto: divulgação

____________________________________
Prof. Mariano
Pesquisador e carnavalesco do carnaval de Niterói

Nenhum comentário:

Postar um comentário