Está em moda na política carioca o tal choque de ordem, uma prática de estado, há muito tempo adotada pela nossa elite e que historicamente nunca resolveu nossos problemas sociais. Se não bastasse sua ineficácia para dar solução as nossas contradições sociais do dia a dia, nossos políticos querem aplicá-la no carnaval. Tal postura é, no mínimo, bizarra, pois vai de encontro à própria filosofia carnavalesca, que é justamente romper, pelo menos nos quatro dias de folia, com a monotonia da ordem pública, que na maioria das vezes é estafante sem vida e só beneficia uma burocracia parasitária do Estado.
Agora que o carnaval de rua carioca mostra sinais de estar voltando com toda força, espontaneidade e irreverência, os setores conservadores e retrógrados começam a elaborar planos para inibir a criação e a realização dos blocos de rua.
Desde o tempo do império que o carnaval é uma oportunidade para os que estão na base de sustentação da pirâmide mostrarem com gestos burlescos sua insatisfação com seu cotidiano. Foi assim que os escravos demonstraram nos dias de momo sua revolta com a política adotada pela nobreza. Na república, os blocos de ruas que passaram a ocupar as avenidas dos grandes centros urbanos, aproveitavam seus desfiles para protestarem contra o choque de ordem dado pela insensível república velha.
Portanto, está na cultura do carnaval de rua a quebra de normas. O rito que se cultua é o do desvario carnavalesco.
Se hoje as pessoas mijam nas ruas não é culpa do excesso de agremiações carnavalescas, é muito mais um sintoma da total falta de identidade das pessoas com essa tal ordem pública. e isto não se resolve com choque de ordem, mais com diálogo do poder público com a sociedade civil.
O tempo que os nossos políticos perdem elaborando planos para conter a espontaneidade das festas populares, como o futebol e o carnaval, eles deveriam sim dar um choque nas suas administrações, mais um choque de imaginação para que suas políticas públicas não continuem sendo mera fantasia na vida de nós, cidadãos comuns.
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Professor Mariano
é professor de História, pesquisador do carnaval e colunista do blog na “Cadência da Bateria”
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