O episodio da possível venda da legendaria quadra da Corações Unidos, que hoje abriga o Bloco União da Engenhoca, para uma igreja evangélica, invoca uma discussão muito interessante, mas pouco explorada no mundo do samba. Há muito tempo existe nas comunidades pobres do Rio de Janeiro um trabalho muito forte por parte destas igrejas evangélicas de enfraquecer social e culturalmente as agremiações carnavalescas, sejam elas blocos ou escolas de samba e, assim, desfazer seus vínculos de identidade com suas comunidades.
Quem milita no carnaval sabe que há muitos anos encontramos sérias dificuldades em levar para a avenida a famosa ala das baianas. Já ocorreu em vários carnavais de as agremiações perderem pontos por levarem um número insuficiente de baianas para avenida. Pesquisas antropológicas feitas em algumas agremiações apontam que um dos motivos para esse desaparecimento de componentes nas alas das baianas se dar pelo fato do assédio feito pelas igrejas evangélicas nas camadas mais idosas da comunidade. O trabalho de catequese que é feito na cabeça das senhoras está fazendo ao logo do tempo com que elas troquem as fantasias pelas bíblias.
Tal fenômeno ocorrido nas alas das baianas acabou num certo momento influenciando para diminuição do número de componentes das agremiações, pois, por exercerem muitas das vezes o papel de chefe da família, mãe e avó, estas mulheres acabam de uma certa forma, convencendo familiares e seu ciclo de amizade a se afastarem do mundo carnavalesco. Por isso é que hoje várias agremiações têm muita dificuldade de ter um número mínimo de componentes para desfilar no carnaval.
Não quero, com esta reflexão, causar nenhum clima de rivalidade entre religião e carnaval, pois acho que o carnaval, de um certo modo, é uma festa com contornos religiosos. O que trago é um olhar para algo que é latente, e se, de algum modo, vem sendo bom para as igrejas evangélicas, parabéns para elas, mas para o carnaval e suas agremiações tal fenômeno social vem sendo muito ruim, pois escola e blocos estão cada ano minguando em relação o número de componentes.
E qual seria a solução para tal problema? Como professor, acho que as escolas da rede pública têm que acrescentar nos seus currículos de história e ensino religioso o tema carnaval. Abordando a musicalidade, história e religiosidade das nossas agremiações carnavalescas. Democratizando a informação na escola pública estaremos fazendo com que as futuras gerações entendam melhor, e com menos preconceitos, as culturas afros.
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Professor Mariano
Professor Mariano
é comentarista, pesquisador e carnavalesco
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