Embora eu considere um paradoxo para o espírito carnavalesco, você criar uma agremiação que separa as pessoas por gênero. Isto porque, a essência do carnaval está justamente no rompimento com as regras e distinções sociais. Apesar deste paradoxo cultural, vejo que o surgimento do bloco “Saias na Folia”, pode ser um fator de inovação e incremento do carnaval de Rua de Niterói.
A idéia da politização e irreverência do bloco me agrada muito, acho que o carnaval de um modo geral está precisando disto. A coisa ficou filosoficamente muito vazia e sentimentalmente, muito triste e pesada. Carnaval não são arrepio, nem segredo, é riso, crítica e muito ritmo.
Estive conversando com a presidente do bloco Saias na folia, a nossa querida Rita Diirr e ela me confessou que sua idéia é também desfilar pelas ruas da cidade, transformando a sua agremiação num bloco de corda, isto é, claro para não misturar homens com mulheres. Acho muito bom se isto acontecer, pois considero que estamos precisando de agremiações carnavalescas que elabore e aprimoram a nossa cultura popular, e não a banalize e descaracterize como vem fazendo muitas escolas e blocos.
Vamos esperar que o charme, a beleza e principalmente a inteligência feminina, traga um novo ânimo popular e político para o carnaval de Niterói.
Avante meninas!
foto: divulgação
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Prof. Mariano
Pesquisador e carnavalesco do carnaval de Niterói
A opinião do pesquisador e historiador sobre os acontecimentos do carnaval
Os 100 anos da Estrela do Império Serrano, Mano Décio da Viola
Se fosse vivo, Mano Décio da Viola teria completado no último dia quatorze, 100 anos de idade.
Nada mais justo, portanto, de rendermos uma homenagem nesta coluna a este baiano de alma carioca, que tanto fez pelo samba e pelo carnaval do Rio de Janeiro.
Vamos recordar um pouco à trajetória e o sucesso deste compositor negro, que lotou com muita dignidade contra o destino que a sociedade de classes lhe impôs.
Vindo para o Rio de Janeiro ainda bebê, Mano Décio teve uma infância muito dura, do ponto de vista social, mas desde o inicio o samba e o carnaval já reservavam a este talento, um destino de vitória e consagração.
Nas décadas de 20 e 30, mano Décio peregrinou por vários morros cariocas, freqüentando várias agremiações carnavalescas importantes do Rio de Janeiro como: Rancho Príncipe das Matas do Morro da Mangueira e a Escola de Samba Recreio de Ramos.
Mas foi em Madureira que brilhou a estrela a estrela de Mano Décio, primeiro como Admirador dos desfiles da Prazer da Serrinha. No inicio dos anos 40 e depois, como componente da escola e um dos revolucionários, que iria romper com a gestão centralizadora e capitalista do presidente Alfredo Costa, que cobrava ingresso do sambista freqüentador da escola.
Em 1946, Mano Décio da viola e Silas de oliveira compuseram para o desfile da Prazer da Serrinha um samba cuja letra interpretava o enredo da agremiação. Os dois compositores criaram o que mais tarde se convencionou a chamar de samba enredo. Até então, a música do carnaval não tinha a ver com a narrativa que o desfile apresentava através das fantasias e estandartes. A Prazer da Serrinha estava pronta para fazer história no desfile das escolas de samba daquele ano. Contudo, um pouco antes de começar o desfile, o presidente da escola decidiu vetar o samba e colocar uma canção simples no lugar.
Mano Décio da viola, Silas de Oliveira, Aniceto Menezes e Sebastião de Oliveira, o molequinho sob a proteção do pai de santo Mano Elói, fundaram em 23 de março de 1947 o Grêmio Recreativo Escola de Samba Império Serrano.
O primeiro samba campeão de Mano Décio foi “Exaltação a Tiradentes”, de 1949, que criou em parceria com Estanislau Silva e Penteado e com a ajudar da filha, que emprestou o livro escolar para auxiliá-lo. Esse samba foi gravado para o carnaval de 1955 como “Tiradentes”, configurando-se como o primeiro registro histórico de samba enredo.
Exaltação a Tiradentes (1949)
Império Serrano (RJ)
Composição: Mano Décio, Estanislau Silva e Penteado
EXALTAÇÃO A TIRADENTES
Joaquim José da Silva Xavier
Morreu a 21 de abril
Pela Independência do Brasil
Foi traído e não traiu jamais
A Inconfidência de Minas Gerais
Joaquim José da Silva Xavier
Era o nome de Tiradentes
Foi sacrificado pela nossa liberdade
Este grande herói
Pra sempre há de ser lembrado
Portanto lembrar-se de Mano Décio da viola é recordar um capítulo importantíssimo da história dos desfiles das escolas de samba. Capítulo que trás o germe do rompimento e da inovação, marcas fundamentais no caminhar do samba.
foto: divulgação
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Prof. Mariano
Pesquisador e carnavalesco do carnaval de Niterói
Nada mais justo, portanto, de rendermos uma homenagem nesta coluna a este baiano de alma carioca, que tanto fez pelo samba e pelo carnaval do Rio de Janeiro.
Vamos recordar um pouco à trajetória e o sucesso deste compositor negro, que lotou com muita dignidade contra o destino que a sociedade de classes lhe impôs.
Vindo para o Rio de Janeiro ainda bebê, Mano Décio teve uma infância muito dura, do ponto de vista social, mas desde o inicio o samba e o carnaval já reservavam a este talento, um destino de vitória e consagração.
Nas décadas de 20 e 30, mano Décio peregrinou por vários morros cariocas, freqüentando várias agremiações carnavalescas importantes do Rio de Janeiro como: Rancho Príncipe das Matas do Morro da Mangueira e a Escola de Samba Recreio de Ramos.
Mas foi em Madureira que brilhou a estrela a estrela de Mano Décio, primeiro como Admirador dos desfiles da Prazer da Serrinha. No inicio dos anos 40 e depois, como componente da escola e um dos revolucionários, que iria romper com a gestão centralizadora e capitalista do presidente Alfredo Costa, que cobrava ingresso do sambista freqüentador da escola.
Em 1946, Mano Décio da viola e Silas de oliveira compuseram para o desfile da Prazer da Serrinha um samba cuja letra interpretava o enredo da agremiação. Os dois compositores criaram o que mais tarde se convencionou a chamar de samba enredo. Até então, a música do carnaval não tinha a ver com a narrativa que o desfile apresentava através das fantasias e estandartes. A Prazer da Serrinha estava pronta para fazer história no desfile das escolas de samba daquele ano. Contudo, um pouco antes de começar o desfile, o presidente da escola decidiu vetar o samba e colocar uma canção simples no lugar.
Mano Décio da viola, Silas de Oliveira, Aniceto Menezes e Sebastião de Oliveira, o molequinho sob a proteção do pai de santo Mano Elói, fundaram em 23 de março de 1947 o Grêmio Recreativo Escola de Samba Império Serrano.
O primeiro samba campeão de Mano Décio foi “Exaltação a Tiradentes”, de 1949, que criou em parceria com Estanislau Silva e Penteado e com a ajudar da filha, que emprestou o livro escolar para auxiliá-lo. Esse samba foi gravado para o carnaval de 1955 como “Tiradentes”, configurando-se como o primeiro registro histórico de samba enredo.
Exaltação a Tiradentes (1949)
Império Serrano (RJ)
Composição: Mano Décio, Estanislau Silva e Penteado
EXALTAÇÃO A TIRADENTES
Joaquim José da Silva Xavier
Morreu a 21 de abril
Pela Independência do Brasil
Foi traído e não traiu jamais
A Inconfidência de Minas Gerais
Joaquim José da Silva Xavier
Era o nome de Tiradentes
Foi sacrificado pela nossa liberdade
Este grande herói
Pra sempre há de ser lembrado
Portanto lembrar-se de Mano Décio da viola é recordar um capítulo importantíssimo da história dos desfiles das escolas de samba. Capítulo que trás o germe do rompimento e da inovação, marcas fundamentais no caminhar do samba.
foto: divulgação
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Prof. Mariano
Pesquisador e carnavalesco do carnaval de Niterói
Fernando Pinto: Precursor do carnaval Virtual
Ao assistir aos desfiles das escolas de samba virtuais, me lembrei do saudoso carnavalesco Fernando Pinto. E também veio na memória, seu carnaval de 1985 na Mocidade Independente de Padre Miguel. Naquele ano Fernando Pinto escolheu como enredo para escola da vila vintém, o tema "Ziriguidum 2001" – Um carnaval nas estrelas.
Se pararmos para vermos de novo aquele deslumbrante desfile, chegaremos à conclusão que genial carnavalesco pernambucano, dentro da sua clara vidência foi precursor do carnaval virtual e, o tornou possível não na tela do computador ou na do cinema, mas sim na cabeça e nos pés da comunidade de Padre Miguel. Foi ela que brilhantemente materializou aquele carnaval futurista, ou como queiram virtual na Marquês de Sapucaí.
Ziriguidum 2001, inspirado no cinema cientifico, mostrou que a idéia de virtualidade não ocorre apenas na tela do computador ou na da pintura como fizeram os surrealistas, ela também pode está ali, no asfalto, como no caso do carnaval da Mocidade em 1985.
Fernando Pinto (foto) transformou sua utopia de levar o carnaval para as estrelas, para o futuro, em realidade virtual. Pois, embora o artista tenha criado toda uma existência entre sua utopia e a realidade objetiva, nem a Mocidade e tão pouco o público estavam, nas estrelas ou no ano de 2001, mas sim, na Marquês de Sapucaí e no ano 1985.
Por tanto este desfile, teve um caráter virtual, pois sua existência e realização foram apenas aparentes, apesar de termos a sensação de serem reais e verdadeiros.
Ouça o aúdio do Desfile da Mocidade de 1985 (ao vivo):
foto: divulgação
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Prof. Mariano
Pesquisador e carnavalesco do carnaval de Niterói
Recordar é viver!
Em meio ao anuncio do aumento do preço do cafezinho e da caixa de fósforos, que empobrecia ainda mais o cidadão comum brasileiro e, ajudava a desgastar a imagem do governo militar. Começava no ano de 1967, mais um carnaval na cidade de Niterói.
Ele teve como uma das suas maiores atrações, o desfile do tradicional Bloco Carnavalesco Inocentes Canibais(foto). Esta agremiação arrastava multidões pelas ruas da cidade na década de sessenta. Sua apoteose era a concentração e devoção realizada pelo povo aos pés da estátua de Araribóia no primeiro dia de carnaval.
Além do singular ritual carnavalesco dos Inocentes Canibais, o carnaval de rua da cidade sorriso teve na marchinha “Cachaceiro”, interpretada pelo famoso trio Icaraí, um momento de muita polêmica. Isto porque, as rádios da época boicotaram a execução da música carnavalesca. Ela falava dos hábitos do cotidiano popular. Neste coso abordava o tema “Beber uma cachaçazinha” e, enaltecia a figura do cachaceiro, que na letra da marcha, não era a pessoa que bebia muito, mas sim, o sujeito que fazia uma deliciosa cachaça.
Por achar a marchinha um pouco agressiva a moral e aos bons costumes da época, e para não terem talvez problemas com a censura, a maioria das rádios não tocou esta marcha, mas ela foi um grande sucesso na boca do povo nos quatro dias de momo.
Não poderíamos antes de encerrar esta crônica, deixarmos de falar no desfile das principais escolas de samba de Niterói no ano de 1967. Ele pode ser considerado um divisor de águas, no que diz respeito à disputa pelo titulo de campeão do carnaval niteroiense. Isto porque a nossa querida Acadêmicos do Cubango, depois de muitos títulos, e desfiles inesquecíveis na academia de Niterói, uma espécie de segundo grupo do carnaval de Niterói da época, estreava no grupo de elite da escola de samba da cidade.
Quando a verde e branco do Morro do Abacaxi, pisou na Avenida Amaral Peixoto, mas primeiras horas de segunda-feira “gorda” de carnaval trazendo o magnífico enredo "O Brasil pintado por Debret”. Ninguém teve duvida de apontá-la como a futura vencedora do carnaval de 1967.
Ao abrirem os envelopes dias depois, não deu outra: Cubango campeã do carnaval com nove pontos à frente da segunda colocada que foi a escola de samba do Morro do Estado, a saudosa Império do Estado.
Apesar de amargar um quarto lugar e ver surgir uma rival que a partir daquele momento lhe tomaria muitos titulos de campeã do carnaval niteroiense. O ano de 1967, não foi totalmente desastroso para Unidos do Viradouro. Seu samba enredo cuja letra aparece escrita na íntegra no final desta crônica, foi considerado pela critica como belo samba enredo daquele ano.
“A festa do divino na Bahia”, enredo da Viradouro de 1967, retratava de forma fantástica em sua letra, o sincretismo religioso na capitania baiana na época do Brasil colônia.Com uma letra extensa que procurava narrar de forma cronológica e meticulosa a veracidade dos fatos históricos.
Por tanto este foi o carnaval niteroiense de 1967. Recordá-lo como fizemos nesta crônica é mostrar que muito antes do grande escrito baiano Jorge Amado, classificar o carnaval de Niterói como o segundo melhor do Brasil, a cidade já fazia festas carnavalescas que lhe dava jus a tal titulo.
Samba enredo da Unidos do Viradouro de 1967
Titulo - Festa do Divino na Bahia
Antigamente na Bahia
Acontecia, uma festa de muita alegria
Realmente era lindo
Ver tanta gente sorrindo
Ôôôôôô...
Era o povo pela praça
Cantando cheio de graça
Ôôôôôô...
Ê o bailar dos sinos
Anunciava o divino
Em belo e rico ritual
Os vices reis logo chegavam
Em belas carruagens
Era motivo de orgulho
Glorias e homenagens
Eram matizes multicores
Inebriantes e febris
De panoramas sedutores
E belezas tão sutis
Desfilavam as cavalhadas
Preto velho das congadas
A exibição da capoeira
O refrão da baiana faceira
Quem é que não quer o vatapá?
E o manguzá do tabuleiro de Iaiá?
II
É da Bahia de outrora esta história
É da Bahia tão formosa primorosa
Festa do divino da Bahia colossal
Fatos tão marcantes do Brasil colonial
Ôôôôôô
Festa do povo, lá em salvador
foto: divulgação
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Prof. Mariano
Pesquisador e carnavalesco do carnaval de Niterói
Ele teve como uma das suas maiores atrações, o desfile do tradicional Bloco Carnavalesco Inocentes Canibais(foto). Esta agremiação arrastava multidões pelas ruas da cidade na década de sessenta. Sua apoteose era a concentração e devoção realizada pelo povo aos pés da estátua de Araribóia no primeiro dia de carnaval.
Além do singular ritual carnavalesco dos Inocentes Canibais, o carnaval de rua da cidade sorriso teve na marchinha “Cachaceiro”, interpretada pelo famoso trio Icaraí, um momento de muita polêmica. Isto porque, as rádios da época boicotaram a execução da música carnavalesca. Ela falava dos hábitos do cotidiano popular. Neste coso abordava o tema “Beber uma cachaçazinha” e, enaltecia a figura do cachaceiro, que na letra da marcha, não era a pessoa que bebia muito, mas sim, o sujeito que fazia uma deliciosa cachaça.
Por achar a marchinha um pouco agressiva a moral e aos bons costumes da época, e para não terem talvez problemas com a censura, a maioria das rádios não tocou esta marcha, mas ela foi um grande sucesso na boca do povo nos quatro dias de momo.
Não poderíamos antes de encerrar esta crônica, deixarmos de falar no desfile das principais escolas de samba de Niterói no ano de 1967. Ele pode ser considerado um divisor de águas, no que diz respeito à disputa pelo titulo de campeão do carnaval niteroiense. Isto porque a nossa querida Acadêmicos do Cubango, depois de muitos títulos, e desfiles inesquecíveis na academia de Niterói, uma espécie de segundo grupo do carnaval de Niterói da época, estreava no grupo de elite da escola de samba da cidade.
Quando a verde e branco do Morro do Abacaxi, pisou na Avenida Amaral Peixoto, mas primeiras horas de segunda-feira “gorda” de carnaval trazendo o magnífico enredo "O Brasil pintado por Debret”. Ninguém teve duvida de apontá-la como a futura vencedora do carnaval de 1967.
Ao abrirem os envelopes dias depois, não deu outra: Cubango campeã do carnaval com nove pontos à frente da segunda colocada que foi a escola de samba do Morro do Estado, a saudosa Império do Estado.
Apesar de amargar um quarto lugar e ver surgir uma rival que a partir daquele momento lhe tomaria muitos titulos de campeã do carnaval niteroiense. O ano de 1967, não foi totalmente desastroso para Unidos do Viradouro. Seu samba enredo cuja letra aparece escrita na íntegra no final desta crônica, foi considerado pela critica como belo samba enredo daquele ano.
“A festa do divino na Bahia”, enredo da Viradouro de 1967, retratava de forma fantástica em sua letra, o sincretismo religioso na capitania baiana na época do Brasil colônia.Com uma letra extensa que procurava narrar de forma cronológica e meticulosa a veracidade dos fatos históricos.
Por tanto este foi o carnaval niteroiense de 1967. Recordá-lo como fizemos nesta crônica é mostrar que muito antes do grande escrito baiano Jorge Amado, classificar o carnaval de Niterói como o segundo melhor do Brasil, a cidade já fazia festas carnavalescas que lhe dava jus a tal titulo.
Samba enredo da Unidos do Viradouro de 1967
Titulo - Festa do Divino na Bahia
Antigamente na Bahia
Acontecia, uma festa de muita alegria
Realmente era lindo
Ver tanta gente sorrindo
Ôôôôôô...
Era o povo pela praça
Cantando cheio de graça
Ôôôôôô...
Ê o bailar dos sinos
Anunciava o divino
Em belo e rico ritual
Os vices reis logo chegavam
Em belas carruagens
Era motivo de orgulho
Glorias e homenagens
Eram matizes multicores
Inebriantes e febris
De panoramas sedutores
E belezas tão sutis
Desfilavam as cavalhadas
Preto velho das congadas
A exibição da capoeira
O refrão da baiana faceira
Quem é que não quer o vatapá?
E o manguzá do tabuleiro de Iaiá?
II
É da Bahia de outrora esta história
É da Bahia tão formosa primorosa
Festa do divino da Bahia colossal
Fatos tão marcantes do Brasil colonial
Ôôôôôô
Festa do povo, lá em salvador
foto: divulgação
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Prof. Mariano
Pesquisador e carnavalesco do carnaval de Niterói
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