Em tempos de enredo vazio de conteúdo e de difícil entendimento, é louvável a escolha do café como tema de enredo da querida escola de samba de Niterói Balanço do Fonseca.
Apesar de ter sido explorando algumas vezes na avenida, o café é um assunto que ainda nos revela grandes curiosidades, senão vejamos: no Brasil, escravos e café tiveram uma origem comum: a África. Natural das Montanhas da Abissínia (atual Etiópia), o café era originalmente comido em forma de pasta. A entrada no mundo árabe mudou seu tratamento. Passou a ser torrado, reduzido a pó e lançado em água fervente. Ainda hoje se chama “Café turco”. De comida, passou a bebida, mas não coado. O intenso contato entre árabes e as cidades italianas, principalmente a partir do século XVII, acabou por introduzir o café na Europa, o qual recebeu mais um acréscimo em sua preparação: a filtragem, pois os italianos não apreciavam a sua borra. Estava criada a forma de preparo da bebida, utilizada até os dias de hoje.
Em relação à cultura produzida pelos chamados Barões do café, a construção das nossas salas de jantares, com seus talheres e mesas longas, foi uma tradição feita por esses homens, que sustentavam o poder e lançavam modas.
No plano político, uma coisa que não foi muito abordada nos outros enredos que falaram do café, foi à aliança café e política.
O poder de Minas Gerais nesse período é explicado não pela força econômica do gado de leite, mas pela sua projeção política garantida pela bancada de 37 deputados, a maior do país. E a influência de Minas também deriva da forte cafeicultura, já que foi o segundo maior produtor de café do Brasil até o final da década de 1920, sendo responsável por 20% em média da produção nacional. Por esses dados cai por terra aquela história da republica do “Café com leite”. A expressão mais adequada para pré-suposta aliança Minas Gerais-São Paulo seria então “Café com Café”.
Como vocês podem ver, o tema café ainda pode trazer muitas novidades e singularidades pesquisadas sobre o assunto.
Esperamos que o carnavalesco responsável pela materialização do enredo do Balanço do Fonseca possa fazer de um tema já visto em outros carnavais, um desfile original. Pesquisa tem , é só vasculhar.
foto:divulgção
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Prof. Mariano
Pesquisador e carnavalesco do carnaval de Niterói
A opinião do pesquisador e historiador sobre os acontecimentos do carnaval
“Os morros cariocas como origem das nossas escolas de samba”
Nos dias atuais está cada vez mais difícil uma escola de samba do Rio de Janeiro se assumir como produto cultural dos morros cariocas. A maioria delas, principalmente as grandes escolas de samba, se classifica como empresas que visam muito mais defender seus negócios capitalistas, do que ser um pólo de defesa das raízes do mundo do samba.
Tal postura se desenvolveu historicamente a partir dos anos sessenta, quando as escolas de samba começaram abandonar seus artistas locais e sua comunidade, para se aproximar e compartilhar interesses com a classe média, transformando assim o carnaval tradicional e popular em um produto de cultura de massa que atenderia aos interesses de mercado da época.
Por isso quero neste espaço resgatar à origem popular das nossas escolas de samba. Tudo começa lá no inicio do século XX, quando o recém criado estado republicano com sua política segregadora “ofereceu” aos pobres, em sua maioria de etnia negra, os morros como locais de moradia e desenvolvimento social. Ali sem a presença responsável do governo, se desenrolaram vários problemas sociais, mas também nasceram nossas escolas de samba que transformaram aqueles lugares a principio inóspitos, em almas sonoras da cidade do Rio de Janeiro. Estas agremiações revelaram através dos seus desfiles enredos, a forma de pensar da negritude carioca.
Mas infelizmente no final de década de sessenta para cá, muitas escolas fizeram questão de se afastar das suas origens de morros para se transformarem em escola S.A. e sem identidade. Dois exemplos clássicos de tal atitude foram realizados por Salgueiro e Portela no inicio da década setenta. O Salgueiro deixou de ensaiar na sua histórica quadra Casemiro calça larga no alto do morro, para ensaiar no Clube Maxwell, e a Portela passou a promover ensaios no bairro de Botafogo na zona sul carioca, bem longe das raízes suburbanas.
Estamos presenciando no Rio de Janeiro a esdrúxula construção de muros para conterem o avanço de morros cariocas. Se tivéssemos feito isso na época do surgimento das nossas queridas escolas de samba, não teríamos hoje nossa Mangueira, Estácio de Sá, Império Serrano, Unidos da Tijuca, Vila Isabel e outras tantas escolas do Rio de Janeiro que nasceram dos morros.
Nós sambistas e intelectuais do samba temos que ver o morro como estrutura orgânica, social e histórica, que mantém ali toda existência e a experiência de um povo, que ajudou a construir a nossa brasilidade através do samba.
Foto: Morro da mangueira
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Prof. Mariano
Pesquisador e carnavalesco do carnaval de Niterói
Tal postura se desenvolveu historicamente a partir dos anos sessenta, quando as escolas de samba começaram abandonar seus artistas locais e sua comunidade, para se aproximar e compartilhar interesses com a classe média, transformando assim o carnaval tradicional e popular em um produto de cultura de massa que atenderia aos interesses de mercado da época.
Por isso quero neste espaço resgatar à origem popular das nossas escolas de samba. Tudo começa lá no inicio do século XX, quando o recém criado estado republicano com sua política segregadora “ofereceu” aos pobres, em sua maioria de etnia negra, os morros como locais de moradia e desenvolvimento social. Ali sem a presença responsável do governo, se desenrolaram vários problemas sociais, mas também nasceram nossas escolas de samba que transformaram aqueles lugares a principio inóspitos, em almas sonoras da cidade do Rio de Janeiro. Estas agremiações revelaram através dos seus desfiles enredos, a forma de pensar da negritude carioca.
Mas infelizmente no final de década de sessenta para cá, muitas escolas fizeram questão de se afastar das suas origens de morros para se transformarem em escola S.A. e sem identidade. Dois exemplos clássicos de tal atitude foram realizados por Salgueiro e Portela no inicio da década setenta. O Salgueiro deixou de ensaiar na sua histórica quadra Casemiro calça larga no alto do morro, para ensaiar no Clube Maxwell, e a Portela passou a promover ensaios no bairro de Botafogo na zona sul carioca, bem longe das raízes suburbanas.
Estamos presenciando no Rio de Janeiro a esdrúxula construção de muros para conterem o avanço de morros cariocas. Se tivéssemos feito isso na época do surgimento das nossas queridas escolas de samba, não teríamos hoje nossa Mangueira, Estácio de Sá, Império Serrano, Unidos da Tijuca, Vila Isabel e outras tantas escolas do Rio de Janeiro que nasceram dos morros.
Nós sambistas e intelectuais do samba temos que ver o morro como estrutura orgânica, social e histórica, que mantém ali toda existência e a experiência de um povo, que ajudou a construir a nossa brasilidade através do samba.
Foto: Morro da mangueira
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Prof. Mariano
Pesquisador e carnavalesco do carnaval de Niterói
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